sábado, 23 de outubro de 2010

BRUNO DANIEL: "MUITAS COISAS FORAM DESCOBERTAS"

O RATO ESCONDIDO COM O RABO DE FORA.

Reinaldo Azevedo, via @Veja

A família Daniel tem certeza de que o assassinato de Celso está ligado ao esquema de propina que funcionava na Prefeitura para carrear dinheiro para o PT. O modelo é considerado uma espécie de software original, adaptado, depois, a outras cidades e outras esferas da administração a que o partido chegou — inclusive a federal.

A ar de santarrão de Carvalho, de quem se ouvirá falar muito nesta semana e nos próximos dias, engana. Ele não é só um rapaz manso, que sabe fazer o “Pelo Sinal”. É uma figura graduada na hierarquia do PT e elo mais forte que liga a administração ao partido. É tão importante que Lula chegou a pensar nele para presidir a legenda. Concluiu depois que não poderia abrir mão de sua colaboração no governo.

Carvalho conhece os subterrâneos no Palácio, onde se move de modo ágil e solerte. Na TV, a campanha de Dilma diz que Serra é “um gato escondido com o rabo de fora”. Certo! Já que os petistas escolheram a política como zoologia, se tucano é gato, petista só pode ser rato. Assim, seguindo a lógica escolhida pelos próprios petistas, Carvalho é, então, um rato escondido com o rabo de fora.

Não faz tempo, o Palácio do Planalto se envolveu numa tramóia para tentar jogar nas costas do senador Marconi Perillo (PSDB), que disputa o segundo turno do governo de Goiás, uma certa conta secreta no exterior. Descobriu-se depois que era tudo picaretagem. A conta nem existia. A caudinha — ainda para ficar na metáfora escolhida pelo próprio PT — de carvalho apareceu na história.

A denúncia aceita pela Justiça endossa a versão de João Francisco e de Bruno, irmãos de Celso Daniel. Eles afirmam que Gilberto Carvalho, que era o homem forte de Celso na Prefeitura de Santo André, sabia do esquema de propina. João Francisco chegou a afirmar em depoimento à Justiça ter ouvido do próprio Carvalho que era ele quem entregava o dinheiro a José Dirceu. Carvalho e Dirceu negam.

A família Daniel no exílio

João Francisco nunca foi petista. Ao contrário: sempre foi adversário do partido em Santo André. Bruno e sua mulher, Marilena Nakano, no entanto, eram filiados ao PT e não podem ser acusados de antipetismo congênito. Ela, um quadro do partido, chegou a ser secretária de Cultura no primeiro dos três mandatos de Celso, com quem havia militado no MEP (Movimento de Emancipação do Proletariado). Irmã de Maria Nakano, mulher do lendário sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, Marilena era uma figura respeitada na esquerda.

Ocorre que a família Daniel não aceitou a versão oficial para a morte de Celso. A releitura das reportagens daquele período, com efeito, chega a estarrecer. E passou a se movimentar para, como dizia, cobrar lisura nas apurações. Ameaçados de morte, os irmãos Daniel e suas respectivas famílias tiveram de deixar o país. João Francisco se mudou para a Itália, e Bruno, Marilena e os filhos são hoje os únicos brasileiros oficialmente reconhecidos pelo governo da França como “exilados”. Abaixo, trecho do vídeo que Bruno Daniel gravou, pelo Skype, para o Manifesto em Defesa da Democracia. Ele conta parte da história.


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