Apesar de ter sete anos na época, com certeza nunca vou esquecer o Natal de 2006. Para uma criança que está começando a ser alfabetizada, considero que eu lia bem. E esse foi o problema daquele ano, saber ler! Eu aguardava o ano todo, pela chegada do Papai Noel. Ficava na expectativa se ele tinha “decifrado” minha cartinha (minhas letras não eram exatamente as que constam no alfabeto) e se meu presente tão sonhado, estaria no saco vermelho dele, quando Papai Noel entrasse pela chaminé.
Neste Natal, a ceia de família foi lá em casa. Todos reunidos, casa cheia de parentes, barulho, bagunça e muita expectativa. De repente tocam os sinos! Era o som que eu aguardava ansiosa, enfim Papai Noel chegou. O abraço dele tinha cheiro e gosto de Natal. E ele vindo com uma caixa de presentes enorme, era melhor ainda. Na minha carta eu pedia a Boneca Dentinho. E quando rasguei o papel de bichinhos, tive a maior das surpresas.
Realmente Papai Noel tinha lido minha cartinha. Minha filhinha com dentes estava ali dentro! Mas no mundo das crianças, nem tudo é perfeito. Minha mãe gentilmente convenceu o bom velhinho fazer uma “troca justa” comigo. Eu ficaria com a boneca, desde que entregasse a chupeta para ele levar para o Polo Norte. Na hora estava tão contente com a boneca, que aceitei. Papai Noel pegou minha chupeta, e foi embora.
Fui até o portão, sentei na escadinha para dar tchau a ele. Quando o caminhão que levava ele ligou (ele era moderno, já não usava mais renas), uma faixa desprendeu do carro. Eu fui juntando letra por letra, até ler “loja Koisas e Koisinhas”. Isso acabou comigo, com meu Natal e com minha crença que o Papai Noel existia. Era o carro da loja de brinquedos da cidade. E aquele homem de vermelho, que nem era tão gordo assim, não era o Papai Noel. Era só um funcionário da loja.
A sensação é mesma quando você descobre que é filho adotivo. O que seria do Natal? Por quem eu iria esperar o ano todo agora? E pior, um homem estranho, fantasiado tinha levado minha chupeta! As minhas lágrimas que caíram por toda a noite, eram sinceras. Elas não paravam de cair, e se revezavam entre tristeza e raiva. Por que ninguém me contou que ele não era de verdade? Como aquele homem estranho, fingindo ser a sensação do Natal, sabia que era aquela boneca que eu queria? Ele era tão rico assim, que podia comprar todos os presentes para as crianças? Confusa entre essas perguntas, o sono me venceu.
Acordei ardente em febre no outro dia. Como não tinha mais a chupeta, me contentava com as pedrinhas do quintal, com a vassoura ou com o dedo. Acho que quando minha mãe me viu chupando pedrinhas, ela se arrependeu do acordo que fez com o falso Noel. Por dias eu ficava pelos cantos, sozinha e com febre. Não era gripe, nem intoxicação alimentar por causa das pedras. Era desilusão! Hoje com 21 anos, não acredito mais no velhinho gordo, de barba branca e roupas e saco vermelho. Acredito no espírito de natal, no perdão, na união das famílias e na paz que essa época do ano traz. Mas meus filhos, nem que seja por alguns anos, vão conhecer o Papai Noel. Irão experimentar essa sensação que faz parte da infância, e repassar essa tradição aos meu netos.
Cassiê Kaczuk Refosco.
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