sábado, 22 de outubro de 2011

“As passeatas contra a corrupção estão defendendo a Constituição”

Entrevista
Bolívar Lamounier, cientista político e sociólogo
Publicado em 23/10/2011 Agência O Globo

Mesmo desfocado e com pouco impacto nas ruas, o movimento anticorrupção no Brasil tem dado um recado claro aos políticos sobre a insatisfação da sociedade com os malfeitos do Legislativo e do Executivo. Esta é a opinião do cientista político e sociólogo Bolívar Lamounier, que critica os que veem um viés de direita no movimento afirmando que, desde os anos 50, os protestos contra a corrupção são chamados de “direitistas”, “udenistas”, “lacerdistas” [os dois últimos termos se referem à UDN, partido de direita que fazia forte oposição a Getúlio Vargas e, posteriormente, a João Goulart; e a seu principal líder, o carioca Carlos Lacerda]. “[Os atos anticorrupção] estão defendendo a Constituição”, diz Bolívar.
“Não estou dizendo que o Brasil nunca teve corrupção.
Isso seria uma bobagem.
Estou dizendo que agora saiu de controle.
O governo Lula perdeu o controle.”
Como o senhor vê o movimento anticorrupção?

Há intensidade no protesto, principalmente na internet. O problema é o que você faz com ele, para onde canaliza o protesto. Se vai à rua contra o ministro que superfaturou, é um protesto contra a Dilma ou a favor? Ninguém sabe. Ela toma providências, então o protesto pode ser interpretado como apoio ao que ela está fazendo. Outros pensam protestar contra o governo. Não há foco.

O senhor acredita que o movimento seja mais contra a política que contra a corrupção?

Exatamente. E este é o lado ruim da história. Política virou um nome feio, no mundo inteiro, e o Legislativo é o nome mais feio. É muito mais transparente, é mais fácil saber o que aconteceu. O Legislativo é o Judas da História. Esse é o mecanismo pelo qual a corrupção enfraquece a democracia. Por infeliz coincidência, estamos tendo no Brasil um Congresso muito medíocre. Nunca vi nada igual. A corrupção aumentou monumentalmente.

Quando: no governo Dilma, Lula ou Fernando Henrique?

A afirmação é contundente, mas aumentou no governo Lula. Chegou um número grande de pessoas, não digo que todas mal-intencionadas, mas com pouca experiência política, experiência da máquina, muitas mal-intencionadas. Começou um processo de relaxamento das normas de licitação, contratação e superfaturamento. Lula, que tem 80 qualidades, a meu ver tem uns 60 defeitos. Se tivesse tomado providências no início, logo no caso Waldomiro Diniz, teria controlado 50% do problema. [Waldomiro, um dos principais homens de confiança do então ministro José Dirceu, da Casa Civil, foi acusado em 2004, segundo ano do governo Lula, de negociar com bicheiros o favorecimento em concorrências, em troca de propinas e contribuições para campanhas eleitorais.]

O governo Fernando Henrique também é criticado no caso das privatizações[que supostamente foram foco de corrupção]...

Nada foi provado. Fizeram uma bateria de fuzilamento contra o Eduardo Jorge [Caldas] e não tem acusação contra ele. A mesma coisa contra o Luiz Carlos Mendonça de Barros [os dois, ligados ao PSDB, participaram da articulação das privatizações no governo FHC]. O PT, que fazia fiscalização 24 horas por dia no governo FH, não conseguiu provar nada. Não estou dizendo que o Brasil nunca teve corrupção. Isso seria uma bobagem. Estou dizendo que agora saiu de controle. O governo Lula perdeu o controle.

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