domingo, 8 de janeiro de 2012

Homicídios - O gatilho é puxado pelo tráfico

O gatilho é puxado pelo tráfico


Em 2011, 685 pessoas foram assassinadas em Curitiba. Entre as vítimas, 61% eram usuárias ou traficantes de drogas





  • 08/01/2012, 00:09

Seis em cada dez pessoas que morreram assassinadas em Curitiba no ano passado eram usuárias ou tinham envolvimento com o tráfico de drogas. Ao todo, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), foram 685 homicídios – 423 tendo os entorpecentes como motivação.

Apesar disso, o tráfico não deve ser o alvo central das políticas de segurança pública. Em Curitiba, a exemplo do que ocorreu em outros grandes centros brasileiros, o combate à violência relacionada às drogas precisa ser priorizado. Isso porque, segundo especialistas, o consumo e a venda de drogas chegaram a um estágio quase impossível de se conter. Por isso, os usuários precisam ser tratados e os grandes traficantes presos.
“O problema imediato não é a relação das mortes com o tráfico de drogas. No Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo, o tráfico continua, mas houve declínio das taxas de homicídio”, explica o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos da Violência e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná.

O sociólogo Luis Flávio Sapori, ex-secretário de Segurança Pública de Minas Gerais, diz que, dentro dessa lógica, é necessário aumentar e qualificar as ações policiais nos pontos de tráfico em que ocorre a maioria dos crimes; prender mais traficantes e homicidas; e investir no tratamento de usuários de drogas, de forma intensiva. “A perspectiva não pode ser acabar com o tráfico, mas com a violência. O tráfico nunca vai acabar”, afirma.

Segundo Sapori, o investimento pesado em tratamento médico pode diminuir, e muito, a vitimização dos usuários. Em Curitiba, 42,77% das pessoas assassinadas no ano passado eram usuárias, e não traficantes (que representam 18,23% do total).


Nova polícia


Para Pedro Bodê, é fundamental que o alto número de vítimas de homicídios envolvidas com drogas não seja usado como justificativa para deixar os casos sem conclusão. O especialista considera que o trabalho qualificado para diminuir a violência poderá ser mais bem desenvolvido por uma polícia mais moderna, focada na prevenção. Na opinião de Bodê, a polícia hoje tem um viés mais reativo, trabalhando quase sempre quando já houve o crime.


“É preciso ter uma ocupação social (em áreas conflagradas) e uma polícia capaz de se aproximar da população. Só assim caminharemos para um estado de proteção (da população)”, opina Bodê.


Armas


O elevado número de armas de fogo ilegais circulando também tem um impacto considerável na taxa de homicídios da cidade. De acordo com a Sesp, 77% dos assassinatos em Curitiba tiveram o uso de armas de fogo. A arma branca e a agressão física foram empregadas em 13,87% dos casos registrados na capital no ano passado.


Segundo Sapori, é preciso ter mais rigor no controle dessas armas, com ações efetivas de retirada das ruas, na fronteira, além de destinar mais energia ao combate da corrupção policial – um dos elementos responsáveis pela entrada e circulação de armas nas ruas.


Agora Paz Tem Voz


A partir deste domingo, a campanha contra a violência do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCom) entra em outra fase e ganha um novo slogan: Paz Tem Voz. “A sociedade já correspondeu e mostrou que pode ter um papel mais ativo na campanha e é isso que queremos”, explica a diretora de marketing do GRPCom, Milena Seabra. Segundo ela, as ações agora terão uma proposta mais positiva, com foco na cultura da paz.


Dentro desse perfil, serão realizadas ações de mobilização e peças publicitárias, provocando ainda mais a população a interagir, como ocorreu no Fórum da Paz, em setembro – uma discussão ampla sobre segurança pública com vários setores da sociedade, que colocaram problemas e propostas.


Paz Sem Voz é Medo


Iniciada em julho do ano passado, a campanha procurou, num primeiro momento, mostrar o tamanho do problema no Paraná, que atingiu em 2010 a taxa de 31 homicídios para cada 100 mil habitantes, número considerado epidêmico pela Organização Mundial da Saúde. Na sequência, foram apresentados exemplos de ações e propostas que podem ser colocados em prática para mudar o cenário no estado.


Um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, realizado pouco antes do início das ações, já indicava que os paranaenses tinham consciência da gravidade do quadro. Os entrevistados consideraram a falta de segurança o principal problema do estado. Além da pesquisa que diagnosticou a segurança como principal preocupação paranaense, a RPCTV e a Gazeta do Povo estiveram em São Paulo e no Rio de Janeiro para conhecer a realidade desses estados que tiveram bons resultados com investimentos pesados e estratégias bem delineadas para mudar o quadro de violência.


O jornal e a tevê também iniciaram um trabalho focado na Vila Verde e no Bolsão do Sabará, ambos na Cidade Industrial de Curitiba, bairro que concentra maior número absoluto de homicídios. Lá, foram identificados líderes formais e informais das comunidades envolvidas, que debateram com a polícia e jornalistas as principais necessidades e possíveis soluções para a violência. A interação já começou a apresentar resultados práticos: a volta da Polícia Montada, reivindicada pelas lideranças.


Mapa do Crime


Dentro da campanha, o GRPCom também colocou à disposição dos paranaenses o Mapa do Crime – um espaço para a comunicação de casos de homicídio, agressão, furto, roubo e tráfico de drogas. O mapa também está entrando em uma nova fase, em que os usuários poderão acessar estatísticas, como o perfil das vítimas de homicídios, com informações da Sesp, que serão atualizadas periodicamente.


O Mapa do Crime ainda trará estatísticas baseadas nas informações cadastradas pela própria população. Com essa ferramenta, o leitor poderá, por exemplo, saber quais crimes mais ocorrem e em quais cidades do estado.


Fonte: 08/01/2012, 00:09 Diego Ribeiro
http://www.gazetadopovo.com.br/m/conteudo.phtml?tl=1&id=1210577

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